Memória CIn — O Jogo de Dominó
por Zanoni Carvalho, professor aposentado do CIn-UFPE
Ele declara, sem constrangimento algum, que quando se entendeu por gente, lá pelo jurássico ano de 1956, morava no Beco da Merda em Água Fria, Zona Norte do Recife. Em verdade, não tenho notícias de que no Recife exista, ou tenha existido, avenida, rua, travessa, beco, viela ou coisa que o valha com tão vil denominação. Acredito, é só um palpite, que essa designação atribuída por Ele ao Reinado Encantado, lugar onde sua família “se escondia”, deva-se ao fato de que naquele beco os humildes casebres, ditos de taipa, via de regra excretavam os dejetos dos moradores para a via pública. Normal, se considerarmos que aproximadamente 50% da população recifense, ainda hoje não tenha acesso ao saneamento básico. Fique tranquilo caro leitor. Não irei discutir, e nem caberia nesse texto, políticas públicas de quaisquer natureza ou de governantes inescrupulosos.
Bem, mas se assim Ele quer, digo que do Beco da Merda, por razões improváveis e desprovidas de explicações plausíveis Ele foi catapultado para o Centro de Informática da UFPE. Essa nem Freud explica. De Água Fria para o “mundo”! Será?
Todo esse nariz de cera serve apenas para informar ao leitor que Ele — aquela figura esquisita, desnutrida, disforme, inexpressiva, enfim… — um dia viu-se professor do maior polo de informática de todo Norte e Nordeste brasileiro. Que coisa!
De sua, dele, história naquela academia não importunaremos quem gasta o seu precioso tempo correndo a vista por esse mal arranjado jogo de palavras, afinal, na verdade, de relevante pouco ou quase nada há a ser declarado, portanto…
De qualquer forma contarei brevemente um dos episódios que Ele me disse ter presenciado lá no CIn. Bem, era um final de ano e para a concorrida e tradicional confraternização todos eram convidados a participar: professores, funcionários, o pessoal de serviços gerais da terceirizada, muitos “penetras”, e por aí. Lá pelas tantas, “organizou-se” um campeonato de dominó. Uma das duplas era formada por Roberto e Inácia (ambos da terceirizada). Jogo vai, jogo vem, chega-se a grande final na qual se enfrentariam a dupla Roberto e Inácia com dois professores portadores de doutorado, de pós-doutorado, obtidos em afamadas Universidades estrangeiras, e de todos os demais “adereços” pertinentes a liturgia universitária. Formou-se então a roda de “perus” a acompanhar pedra a pedra da eletrizante peleja.
Não deu outra. Em menos de quinze minutos os doutores tomaram a maior buchuda do dia. Foram derrotados por dez a zero. Dez a zero! Imagine! Como se não bastasse ainda tiveram que engolir em seco Roberto levantar da mesa e exclamar:
– Tás pensando que isso aqui é computador, é!?!
A gozação e risadagem inevitáveis foi geral.
